quarta-feira, 29 de abril de 2009

Médico aplaude decisão do Senado de equipar local com desfibriladores


Congressistas foram criticados por suposto excesso de aparelhos.Uso da técnica aumenta muito as chances de salvar pacientes.
Luis Fernando Correia Especial para o G1
Que o Senado Federal é protagonista de escândalos financeiros ninguém discute, mas a colocação de desfibriladores externos automáticos na casa deveria ser comemorada. Esses aparelhos podem salvar vidas, e sua disponibilidade e o treinamento de leigos para sua utilização é uma das causas dos cardiologistas em todo o mundo. A crítica foi motivada pela quantidade de desfibriladores, 50 aparelhos, em um prédio onde circulam cerca de 5.000 pessoas por dia. Existe uma proposta de lei federal, que foi lançado no próprio Senado, regulando a exigência da instalação desses aparelhos em locais com grande presença de público e em veículos de transporte para muitas pessoas. A proposta de lei está parada em alguma comissão da Câmara dos Deputados, após ter amargado alguns anos no Senado.
A partir de uma interpretação literal dessa proposta de lei nasceram as críticas à colocação dos aparelhos no Senado. A lei prevê que a presença dos equipamentos seja obrigatória em ambientes com circulação de 2.500 pessoas. A partir dessa leitura simplista, 50 aparelhos para 5.000 pessoas parece demasiado. O problema está no fato de que a demanda real dos desfibriladores não pode ser estimada apenas pela quantidade de pessoas.
A questão é simples. Se alguém sofrer uma parada cardíaca e for atendido, suas chances de sobreviver dependem de receber o primeiro atendimento o mais precocemente possível. São 3 a 4 minutos de oportunidade, durante os quais devem ser iniciados os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar e um desfibrilador deve chegar até a vitima. As pesquisas internacionais já mostraram que as chances de alguém sobreviver somente com as medidas de ressuscitação básicas, compressões do tórax, antigamente chamada de massagem cardíaca e suporte de ventilação são, na melhor hipótese, de 15%.Com a disponibilidade de um desfibrilador a menos de 3 minutos da vítima, suas chances sobem para 85% de possibilidade de sobreviver sem sequelas importantes. Portanto, a definição de quantos desfibriladores são necessários para atender uma emergência cardíaca não depende somente do número de pessoas circulando. Deve ser levada em conta a arquitetura do local e acessos aos desfibriladores.
Discutir as questões de transparência na compra e instalação dessas máquinas é dever da mídia e todo cidadão. Porém, questionar a colocação dos desfibriladores somente levando em conta o número de aparelhos é tão errado quanto não levar em conta as questões arquitetônicas.

Luis Fernando Correia é médico e apresentador do "Saúde em Foco", da CBN.


Joana Gomes